Andreea e o fã inglês Tony, em Madri

Por Cristiano Radtke

Entre os fãs dos Stones, há histórias incríveis de pessoas que não mediram esforços para vê-los ao vivo, onde quer que se apresentassem. Em um dos shows da 14 on Fire Tour, tivemos a oportunidade de conhecer uma dessas pessoas em Zurique: a romena Andreea Chelsoi, que tem uma história fantástica relacionada aos Stones e aos shows da banda que viu nos últimos sete anos. 
Para a 14 On Fire Tour, Andreea pensou em fazer uma aventura: ver tantos shows dos Stones quantos fossem possíveis. Ao longo de 6 meses, desde o início da tour em Abu Dhabi até o show de Estocolmo (o último que Andreea viu), foram 8 shows no total, e com um bônus que é o sonho de qualquer fã da banda: encontrar seus ídolos no backstage. 
Andreea gentilmente nos concedeu a entrevista que você lê a seguir. A história dessa menina é fantástica, e mostra na prática que quando se tem um sonho, basta você querer realizá-lo e tudo pode acontecer. Ou, if you try sometimes, you just might find you get what you need.
Stones Planet Brazil – Quando você começou a ouvir os Stones? Tens algum disco ou canção favorita?
Andreea Chelsoi – Cresci em um ambiente musical, pois meu pai era um grande fã de música e ele sempre tinha discos, fitas, CDs e DVDs com muita música boa. Sou da Romênia e antes de 1990 (por causa do regime político da época) era bem difícil conseguir discos. As pessoas os contrabandeavam e os copiavam. Felizmente eu era muito pequena nessa época, então sou da geração de pessoas que tiveram a sorte de crescer com liberdade de acesso à música.
Nesse contexto, eu já conhecia os Stones desde sempre, junto com os Beatles, Eagles e alguns mais, mas o verdadeiro impacto veio em 2005, quando vi uma gravação na TV de cerca de 20 ou 30 segundos da Voodoo Lounge Tour. Acho que era um vídeo de I Go Wild e a partir daí fui fisgada na hora.
Como eles têm muitos discos, minha canção ou disco favorito mudam a todo tempo. Meu primeiro disco favorito foi Bridges to Babylon, que foi o primeiro que comprei, e o último foi Goat’s Head Soup, depois de uma apresentação que vi em Melbourne em que artistas locais o tocaram ao vivo no Cherry Bar.
São muitos álbuns ou canções favoritas para citar, mas os meus Stones favoritos são… ao vivo!
SPB – Qual foi o primeiro show dos Stones que você viu?
AC – Depois desse vídeo que assisti na TV é que realmente descobri os Stones e tracei uma meta: ir a um show deles. Todos os meus amigos sabiam disso, e no final de 2006 eles me deram um presente de aniversário: um livro sobre os Stones escrito por um autor romeno, no qual eles escreveram mensagens desejando que meu sonho se realizasse.
Dois meses depois, os Stones anunciaram que viriam à Romênia para um dos shows da Bigger Bang Tour. Quão sortuda eu sou? Assim, em 17 de julho de 2007 fui ao meu primeiro show justamente aqui em Bucareste com um grupo de 30 amigos e família (incluindo meus pais) e estávamos no Golden Circle, no lado de Keith, e foi extraordinário.

Com família (incluindo sua mãe, Sorina, de amarelo) e amigos em seu primeiro show em Bucareste, 2007

SPB – Como e quando você começou a planejar sua viagem? O que te fez decidir vê-los ao vivo tantas vezes quantas pudesse?

AC – Desde o primeiro show eu prometi que se tivesse outra chance eu os veria de novo, e essa oportunidade chegou em 2012 para o concerto de 50 anos em Londres e depois em 2013, no Hyde Park.
Em novembro de 2013 eu li que eles fariam o show de reabertura do Adelaide Oval. Achei que seria bacana ver isso, embora não pensasse tão a sério em vê-los lá. Com a ajuda de um amigo que havia me incluído em uma lista de descontos de uma companhia aérea, percebi que seria possível ir à Austrália, ver o show e visitar o país, que eu sempre quis conhecer, pois jamais havia saído da Europa.
Nesse mesmo dia comprei os ingressos para o show do Adelaide Oval, e em seguida foram anunciadas várias datas para a tour. Assim, fiz meu roteiro de viagem coincidir com as datas de shows.
Depois disso, eles anunciaram o primeiro show da tour em Abu Dhabi – que é onde meu amigo vive e de onde eu partiria para a Austrália, então as coisas se encaixaram para que eu montasse um fantástico roteiro de viagem.
Daquele dia em novembro de 2013 até muito recentemente havia muito planejamento diário, à procura dos melhores trechos, preços, hospedagem e cálculo das despesas de viagem, investindo meu tempo nisso, de novembro até agora.
Sempre quis sentir como era estar em tour, e esta foi a oportunidade perfeita no momento exato, pois estava pronta para isso.
Queria dividir a experiência com as pessoas que pensavam o mesmo ou que não podiam ver os shows. Minha ideia era postar histórias em meu blog e fazer vídeos de cada cidade visitada. Abu Dhabi era para ser o “piloto” desses vídeos e a Austrália seria o grande projeto.
SPB – Você teve a chance de encontrar a banda em Abu Dhabi e a desventura de não poder ver os shows na Austrália. Conte mais sobre isso. 
AC – Fui a Abu Dhabi e ganhei um concurso promovido por um dos patrocinadores (que presentearia os vencedores com ingressos VIP), e descobri no caminho para o show que eu iria encontrar a banda! 
É claro que isto me surpreendeu, já que foi algo totalmente inesperado. Fomos levados ao backstage e Charlie veio me cumprimentar, à frente dos outros. Apesar de estar em uma sala com todos eles (algo que jamais imaginava que me ocorreria), o que poderia ser uma situação tensa, o encontro acabou sendo muito natural e espontâneo. Ronnie, como sempre, foi muito amistoso, assim como os outros. Mick era o que parecia mais sério, e todos eles, no final, se pareceram exatamente com o que eu imaginava deles.
Depois desta experiência incrível, eu estava voando para a Austrália quando soube da morte de L’Wren. Se tivesse sabido disso uma hora antes, teria sido possível adiar a viagem, mas fui para a Austrália mesmo assim.
Lá, conheci grandes fãs da banda e decidi tentar a sorte na tour europeia, para a qual eu não tinha nenhum plano e estava completamente despreparada. Para cada show na Austrália que não vi, troquei os ingressos para os shows europeus.
De abril a julho a tour europeia estava praticamente planejada e tudo correu bem. Aprendi que quando você quer muito uma coisa, você tem boas chances de conseguir. 

Andreea com Jane Rose em Abu Dhabi, no backstage

SPB – Por que viajar por todos esses países para ver os Stones e não outra banda/artista?

AC – Esta é uma pergunta interessante, já que vi muitas bandas cover dos Stones na Austrália. Já viajei para ver shows, mas não neste nível. Em 2006 fui a Milão para um show de Mark Knopfler, em 2008 fui à Bélgica, para um dos melhores festivais que há na Europa (Rock Werchter), onde havia grandes bandas como Counting Crows, R.E.M. e outras. Ano passado, depois de ver os Stones e os Beach Boys no Hyde Park fui a Amsterdam ver o Fleetwood Mac.
Geralmente eu tento tirar o melhor de cada experiência. Sou uma fã de shows, mas os Stones sempre dão o melhor de si e é sempre o melhor show a ser visto… e olha que já vi mais de 200 artistas ao vivo

SPB – Quantos shows dos Stones você viu nesta tour?
AC – Foram 8 shows da tour 14 On Fire: o primeiro em Abu Dhabi e depois 7 dos 14 shows na Europa. Minha rota de shows foi: Abu Dhabi, Oslo, Lisboa, Zurique, Viena, Roma, Madri e Estocolmo. No começo do ano eu achei que veria 5 shows, mas fico muito feliz por ter conseguido ver mais que isso.

Show de Lisboa, 2014

SPB – Como você organizou seu trabalho e vida pessoal com as viagens e os shows? Você tirou férias para isso ou trabalhou durante as viagens?

AC – Para Abu Dhabi e Austrália eu tinha alguns dias de folga. Estes eram países que eu jamais havia visitado, mas gostaria muito. Eu ainda tinha alguns dias de férias do ano passado quando decidi começar esta aventura e tentei organizá-la da maneira mais eficiente possível, maximizando os finais de semana.
Para a Europa foi um esquema um pouco mais complicado, pois eu estava indo e voltando. Visitava 3 países ou mais e depois voltava para casa por alguns dias. Às vezes chegava em um país pela tarde e na manhã seguinte voltava para o escritório.
Então, comecei a usar as conexões de trem (pois não tinha comprado passagens aéreas com antecedência e elas se tornaram muito caras) e a parte mais intensa foi a última, quando fui para Estocolmo sem ingressos e com o orçamento apertado. Mas de alguma forma eu sabia que daria certo, e deu!
Eu trabalho para a HP (Hewlett-Packard), e temos um escritório em Barcelona. Assim, na parte final da tour europeia, eu passei uma semana trabalhando lá, indo para Roma, viajando de ônibus para Madrid, voltando para o trabalho, aproveitando um pouco da cidade e finalmente indo para Estocolmo, para o meu gran finale.


Com Bernard Fowler em Madri

SPB – Depois disso tudo, pode-se dizer que os Stones são a sua banda número um ou há outros artistas/bandas que você curta com igual intensidade?

AC – Os Stones são a minha banda favorita ao vivo. Há uma banda romena de rock que eu adoro (Vita de Vie) e costumava viajar pela Romênia há uns 10 anos só para vê-los, criei uma comunidade online de fãs da banda e os vi em vários lugares, tendo alguns momentos memoráveis, sempre conectados à música.
Eu gosto de outras bandas também, e tento vê-las ao vivo sempre que possível. Sempre tive muita sorte e desde 2006 eu batalhei pra ver shows dos meus artistas favoritos. Sei que ainda há alguns para ver, mas estou muito feliz com minhas experiências até agora.

Andreea na O2 Arena de Londres, em 2012

SPB – Foi fácil conseguir os ingressos para os shows que você queria ver?

AC – Sempre pensei que os Stones são o show mais precioso que há na Terra em termos de preço e disponibilidade. Em 2012 eu tentei comprar ingressos para o show da O2 Arena na pré-venda, e em questão de segundos as duas categorias de ingressos mais baratos se esgotaram. Assim, um amigo e eu compramos dois ingressos absurdamente caros, pelos quais eu não podia pagar, mas não me arrependo. Para mim, valeu a pena e de certa forma pensei que se os preços fossem mais baratos, mais pessoas lutariam por um número limitado de ingressos e minhas chances de consegui-los diminuiriam.
Assim, fiquei feliz por não ter desperdiçado esta chance, apesar dos ingressos caros. Mas você precisa comprá-los assim que são colocados à venda; se não fizer isso, você pode perder o show.
Para a Austrália eu acordei no meio da noite para todas as pré-vendas para tentar os ingressos mais baratos para cada show, e acabei conseguindo alguns ingressos Lucky Dip. Eu iria ver os shows com os ingressos mais baratos, e arranjei tudo pra conseguir ingressos para todos os shows que eu queria. 
De qualquer forma, esta foi a minha experiência antes da tour iniciar. Agora, um mês depois, percebi que você pode ir a qualquer show (pelo menos na Europa) e conseguir um ingresso pelo preço original ou até por um pouco menos. De uma forma ou outra, as coisas se arranjam para que você consiga ver o show.
Fui de Roma a Madri sem ingresso, mas graças às comunidades de fãs e pessoas que encontrei nas viagens, consegui estar nos dois shows, inclusive com um ingresso para a Tongue Pit.

SPB – Na sua opinião, qual o melhor ou melhores shows dos Stones que você viu?
AC – Eu curti todos porque foram diferentes, cada um com algo especial e tenho uma boa recordação de cada um deles.
O melhor que vi foi em Bucareste, na Bigger Bang Tour, por ter sido meu primeiro, e por finalmente entender o porquê da histeria nos anos 60. E também porque eu estava bem em frente ao palco e com tantas pessoas que me são queridas. Era um dia muito quente, mais de 40 graus, mas foi um dia perfeito para nós, principalmente por causa do show, que foi fantástico. É surreal e inspirador ver estes velhos adolescentes fazendo o que eles mais amam e tocando seus corações de uma maneira incomparável.
Há uma fantástica conexão entre esses caras e a plateia. Muitas vezes você espera de um show dos Stones ver apenas a lenda no palco, mas quando você presencia isso ao vivo, você tem um show fantástico!

Os Stones em Zurique

SPB – Shows à parte, quais foram os pontos altos das suas viagens?

AC – Eu descobri que isto é o que mais gosto de fazer: viagens relacionadas a shows de rock.
O primeiro ponto alto após os concertos foram as pessoas maravilhosas que encontrei no caminho, de todas as partes do mundo e que você parece conhecer desde sempre. Fiz alguns grandes amigos nessa viagem e espero ver todos novamente… seja onde for.
Adorei descobrir novos continentes e cidades, entrando no clima de cada lugar, aprendendo mais sobre as tradições e cultura locais, gastronomia e pontos históricos. 

Andreea e sua amiga norueguesa Mari, em Viena

SPB – Você pretende vê-los na Austrália? Há outros projetos em vista para viajar e ver os Stones ao vivo novamente?

AC – Eu gostaria de vê-los na Austrália. Agora não tenho mais feriados ou dias de folga, mas ainda tenho um visto, e vou bolar um jeito de conseguir voltar para lá. Isso só será possível se eu conseguir algumas parcerias, promovendo meu projeto de mídias e conseguindo algum dinheiro para a viagem. Tenho algumas ideias que quero colocar logo em prática, então aos poucos eu espero poder conseguir voltar à Austrália.
Estive lá este ano, é um mundo muito grande e eu quero vê-lo tanto quanto possível. Eu noto que à medida em que os anos passam o público tende a se tornar preguiçoso. Pessoas passam mais tempo com seus telefones tirando fotos e gravando o show do que cantando e dançando, e a reação não é mais tão intensa como era. Descobri que o melhor público no mundo é o argentino, e ver um show lá é uma das metas da minha vida. Quero muito ir para lá, e se tiver um show dos Stones, será o maior concerto da Terra.
Com os rumores de continuação da tour para 2015, eu sei que quero estar lá. Sempre quis visitar o Brasil e a América do Sul. Eu achava que este seria o primeiro lugar fora da Europa que eu visitaria, mas a viagem para a Austrália acabou sendo inesperada, conheci muitos fãs fantásticos da Austrália e Nova Zelândia que eu gostaria de encontrar novamente em seus países, mas estou realmente ansiosa para visitar a América do Sul.
Para quem quiser ler mais histórias de Andreea sobre os shows europeus e para saber mais sobre suas próximas aventuras, ela mantém um blog, uma página no Facebook, uma conta no YouTube e no Instagram. Abaixo, uma playlist com os vídeos que Andreea editou durante suas viagens.