FOTOS: BERNARD FOWLER/FACEBOOK



Por André Ribeiro


Mick Jagger estava decidido a gravar seu primeiro álbum solo sem os Rolling Stones em 1985. Para tanto, precisava formar uma banda. O backing vocal contratado foi Bernard Fowler, um nova-iorquino eclético e que vinha há tempos no cenário musical norte-americano trabalhando com gente como Herbie Hancock e até Yoko Ono. Dali em diante, ele nunca mais seria esquecido por Jagger. Bernard passou a figurar em todas as tours e discos dos Stones desde 1989, ganhou o respeito da banda e passou a ser convidado a participar de projetos individuais de Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood, além de Jagger. Em 2015, Bernard lançou seu segundo disco solo, The Bura (o primeiro foi Bernard Fowler – Friends with Privileges, de 2006). Em entrevista exclusiva a O Sul, a segunda voz de Mick Jagger fala sobre seu novo trabalho e também a respeito de sua trajetória com os Stones, o que logo deve virar livro.
Para gravar The Bura, Bernard usou todo seu prestígio e reuniu uma banda de respeito. Amigos como o baixista Darryl Jones e a vocalista Lisa Fischer (ambos da banda de apoio dos Stones) se reuniram a Slash (ex-Guns n’ Roses), Doug Wimbish (Living Color), Waddy Wachtel (X-Pensive Winos, grupo de Keith Richards),  Albert Lee (que tocou com Bill Wyman, ex-Stones, e Eric Clapton) e Sugar Blue (gaitista que tocou em Miss You, dos Stones) para gravar um dos melhores discos do ano. “Foi uma honra e um privilégio estar no estúdio com todos eles. Eles são músicos de classe mundial e eu tenho uma enorme admiração por todos. Eles fizeram eu me sentir digno de estar na presença deles. Os caras deixaram os egos deles em casa e todos nós temos egos. Alguns mais do que outros e eu me incluo nisso também”, referiu o coautor da canção Josephine, com Ronnie Wood.
The Bura tem composições próprias de Bernard, como  Will You Miss Me, escrita quando havia rumores de fim dos Stones depois de a banda comemorar 50 anos de carreira em 2012. Os Stones seguem ativos e Bernard avisa, não tem a menor intenção de deixar de acompanhá-los em tours e discos (há planos de novo CD e excursão da banda em 2016 e Porto Alegre pode receber uma apresentação em março). “Minha esperança é seguir trabalhando com eles até que decidam não mais tocar e ninguém sabe quando isso irá acontecer”, disse Bernard, por e-mail.

Em seu disco, Bernard mostra todo seu ecletismo e canta blues, rock, soul, country/folk e reggae. O segredo para interpretar bem vários estilos é escolher boas canções e amar o que faz, diz Bernard. “Eu acho que minhas raízes são o rock e blues, mas eu não fico pensando muito nisso. Eu canto aquilo que faz eu me sentir bem”, afirma o artista, que não se considera um grande compositor, apesar dos seus dois ótimos discos. “O processo de composição varia. Às vezes começa com uma linha de guitarra ou com uma melodia.  Ou em forma de uma história que eu esteja falando. Uma sensação também pode iniciar o processo”, revela. “Eu sou um compositor ‘ok’, mas pessoas como Steve Wonder, Mick Jagger, Keith Richards ou Joni Mitchell são os mestres do ofício. Às vezes as músicas vêm rapidamente. Outras vezes não”.
Vencedor do Oscar de melhor documentário de longa-metragem  de 2013, o filme “A 20 Passos do Estrelato” (20 Feet from Stardom) mostra o drama e as dificuldades de grandes backing vocals, que acabam esquecidos e não decolam em carreira solo por mais talento que tenham. A amiga Lisa Fischer (ganhadora do Grammy em 1991 por How Can I Ease the Pain) e companheira de banda de apoio de Bernard nos Stones, é uma das estrelas do filme. E Fowler reconhece as dificuldades de ser reconhecido e fazer sucesso estando à sombra de uma banda de rock famosa.  “No meu caso, e na maioria dos casos dos cantores de apoio, a coisa não é fácil. É uma faca de dois gumes. Cantando para a maior banda de rock and roll do mundo, muita gente te promove, mas é difícil obter a separação necessária para que você possa se estabelecer como artista solo”, comenta Bernard.  “Há também a ideia de que você é caro por causa de com quem trabalha, o que não é verdade. Também sempre há os que vão dizer: ‘Você pode cantar o que quiser, mas será que me consegue um dos garotos (Stones)?’ Isso é a única coisa que me irrita”.

Dificuldades à parte, além de suas composições próprias, Bernard gravou covers de Stones (Can´t You Hear me Knocking, mesclada com rap cantado por Chuck D.), Dragon Attack (Queen) e Helter Skelter (Beatles). “Estes artistas são parte da minha referência musical, mas há outras, pois minhas raízes estão no soul, blues, gospel, rock, jazz e salsa”.
Mas e como o cara sobreviveu há tantos anos com a banda mais louca do mundo e ainda está aqui para contar a história? “Eu estou feliz por poder compartilhar algumas histórias. E vem um livro por aí”, revela o vocalista, que é amigo íntimo de todos os Stones.
Bernard cantou no Brasil em 2008 ao lado do saxofonista Tim Ries num evento privado em São Bernardo do Campo (SP) e esteve várias vezes se apresentando na Argentina desde 2007. E quando teremos a chance de vê-lo novamente como solista?  “Eu estou trabalhando nisso neste momento. E avise o pessoal que estou tentando cantar para eles”, finalizou.