O pernambucano Bernardo Chaves, de 32 anos, é uma figuraça. Para ele, viajar para ver os St0nes é um investimento para toda vida. Administrador de empresas, o cara adora organizar suas viagens, especialmente quando o assunto é ver shows dos Rolling Stones. Com sete concertos na bagagem, ele se prepara para acompanhar a banda em mais duas apresentações, agora em Barcelona e Amsterdam. Nesta conversa com Stones Planet Brazil, Bernardo dá dicas interessantes para quem quiser seguir o exemplo dele.

Stones Planet Brazil – Os Rolling Stones completarão 55 anos de história em 2017 e possuem uma legião de fãs de todas as idades espalhados pelo mundo. Há quanto tempo você se considera fã dos caras?

Bernardo Chaves – Desde o primeiro vinil que comprei aos 16 anos, quando entrei para escola técnica de Pernambuco, no fim dos anos 1990. Era um garoto recifense “normal” até conhecer pessoas novas de todos os lugares do Estado, com outro tipo de cabeça.

Aquela turma era diferente, gostava mais de livros que não eram paradidáticos, filmes de arte, poesia estranha e músicas diferentes. Então o rock ‘n’ roll veio. Hendrix e Led Zeppelin foi o que me deixaram louco e sedento para ir atrás de outras bandas do gênero, gostar do blues e do jazz.

Para chegar nos Stones foi questão de tempo. Consertei a vitrola aqui de casa quebrada há décadas e comprei o Tattoo You para inaugurá-la, mesmo sem saber nada dos caras além do que passava na TV.

Até então eu era apenas Satisfaction. O disco custou só 15 reais, uma pequena fortuna para um adolescente. Se já foi uma emoção ver um toca discos funcionando, ter o riff de Start Me Up ecoando por toda casa foi um dos maiores prazeres íntimos que já tive.

Curioso é que eu achava os discos dos Stones bem cheios de groove, e são. Mas acontece que depois de tantos anos, ao ouvir um remaster do Sticky Fingers em CD, eu percebi que esses novos discos estavam rápidos demais. Só depois eu percebi que era a rotação da minha vitrola que estava para menor. Foi ouvindo os vinis com uma dose de honky tonk beeem mais forte do que o comum, que me tornou um stoneano.

Stones Planet Brazil – Com diversas turnês mundiais, os Stones continuam a todo vapor. Quais (quantos?) shows da banda você assistiu e qual o momento mais marcante?

Bernardo – Sete vezes, várias delas na turnê pela América do Sul e um dos momentos mais marcantes. Fazer a andada por Montevidéu, Porto Alegre, Rio e São Paulo atrás dos caras foi um sonho que tinha há muito. Cada cidade com um show diferente, pessoas diferentes, histórias diferentes.

O show de 50 anos em Londres também foi marcante. Foi ali que eles começaram a colocar um coral em You Can’t Always Get What You Want! Também vou guardar para sempre ver isso de perto. Fora a sorte de ter encontrado um show do Mick Taylor em um lugar que mais parece uma capela, o Cadongan Hall. Ao fim do show, foi bacana ver o cara no bar da casa tomando uma, papeando com amigos. Isso até os fãs descobrirem e o bar se transformar numa antiga cena dos tempos da stonemania.

Bernardo e alguns amigos em Montevideu-2016

Stones Planet Brazil – Qual foi o show que você considera tenha sido o mais difícil para ir ver, que tenha necessitado maior esforço, seja ele logístico ou financeiro?

Bernardo – A No Filter Tour vai ser a mais complicada logisticamente e financeiramente. Embora eu só passe por 2 países europeus (vou aos shows de Amsterdam e Barcelona) e tenha começado a me planejar meses antes, não está sendo nada fácil conseguir passagens e estadia barata, que ofereça conforto. Não consegui passagens de trem, vou ficar em dois hostels por país porque não consegui datas exatas, e, para você ter ideia, uma mísera passagem entre Recife e Guarulhos fica mais cara que viajar de avião pela Europa.

Stones Planet Brazil – Qual sua sugestão para aqueles que acham que é um investimento muito alto viajar a outro continente para assistir aos Stones?

Bernardo – Trata-se de um investimento que vai te dar um retorno de curto, médio e longo prazo. Acredite. Porque viajar para fora te deixa mais maduro, te deixa mais independente, muda um pouco sua postura pra melhor.

É uma experiência de vida visitar outros países e saber resolver situações (de coisas pequenas como dialogar com as pessoas até saber se virar quando alguma coisa vai mal por lá) num ambiente que você não conhece bem, que tem que proceder de outra maneira, até mesmo mudar alguns hábitos.

Noto que meu parco inglês melhora a cada ida, porque você está ali na raça, forçando de fato para aprender. A experiência de experimentar outras culturas mudou minha cabeça – seja respeitando mais as diferenças ou acreditando que onde moro tem potencial de ser uma São Francisco, uma Londres ou uma Montevidéu.

Stones Planet Brazil – A aventura de assistir a melhor banda de Rock’n’Roll do mundo inicia já no mistério que envolve o anúncio das turnês e, é claro, na compra de ingressos, que são disputadíssimos e esgotam em poucos minutos. Como é esse processo para você e como é sua preparação para o momento da compra?

Bernardo – Tem uma certa organização, sim. Não é só ter grana, estar bem informado é ponto chave para conseguir ingressos. Digo isso porque as datas da turnê surgem de repente, e geralmente a venda de ingressos abre logo depois do anúncio dos shows.

O dia da compra exige preparação, porque geralmente a venda é em outro fuso horário, como foi a No Filter. Houve momentos em que a venda abria às 5 da manhã! Então tem que estar com despertador ao lado, além de outras etapas que já devem estar prontas no momento da compra, como cartão de crédito habilitado para outros países, já ter conta no site que irá vender os tickets e estar previamente logado (você pode perder ingresso por fazer cadastro na hora). Se puder use o cabo de internet ligado ao laptop e não wi-fi e abra vários navegadores (um navegador pode renderizar melhor a página que outro). Tudo ajuda. Os ingressos acabam em minutos e qualquer segundo perdido é crucial.

Bernardo (D) com o amigo Carmênio José

E claro, vá atrás de mais informações, faça amigos! Eles podem te alertar sobre o que está acontecendo sem você se dar conta. Dedico muito aos meus amigos Cristiano Radtke, Alex Carvalho e Carmênio José porque sempre lembram de mim e avisam a respeito de qualquer informação relevante que aconteça sobre as turnês. Trabalho muito, viajando pelo interior do Estado.

Olha que história: o ingresso para Barcelona eu consegui no meio do sertão nordestino via celular, porque foram eles que me alertaram que, do nada apareceu vendas para Lucky Dip tickets!

Stones Planet Brazil – Depois de ingressos comprados, temos a ansiedade de meses de espera pela viagem e pelos shows. Você tem alguma dica de como abrandar esse sentimento?

Bernardo – Planejar a viagem te deixa mais seguro das coisas. E mais calmo, porque você já tem um itinerário do que vai fazer quando chegar lá. Mas também não sou de ficar planejando todos os minutos da viagem. Só a parte crítica, relacionada ao show: onde se retira ingressos? Qual o transporte para ir e voltar do show? Quais são os documentos pra retirar ingressos? A quem você pode recorrer? Horários de show? O resto é bater perna pelas cidades e ficar bêbado.

Stones Planet Brazil – Sabemos que planejamento é essencial em qualquer tipo de viagem, porém quando há Stones envolvidos isso torna-se um pouco mais complexo. Quais as sugestões você pode deixar para os marinheiros de primeira viagem, após sua experiência nas tours internacionais?

Bernardo – Transitar por outros países. Com um celular com acesso à internet e você está feito. Não quer comprar um chip por lá? Salve os mapas da cidade em algum aplicativo de mapas. Hoje com o google maps, você salva o mapa de toda cidade para usar off-line. O Trip Advisor te dá também em off locais, bares e hotéis. Qualquer celular android hoje de R$ 500,00 vai ter uma agenda embutida que te notifica automaticamente horários de voos e checkins de hotéis.

Use sites rastreador de preço de passagem e estadia. Google voos, trivago, kayak, etc. Isso tudo ajuda.

Pesquise, pesquise, pesquise. Tem hostel que vale mais que hotel. Aeroportos internacionais possuem “shuttles”, vans ou ônibus que te levam ao centro da cidade por um preço bem mais em conta do que pegar táxi. Talvez seja melhor levar uma mala pequena e usar casas de lavanderia para lavar sua roupa do que levar todo seu armário para a viagem. Enfim, existem blogs de viagem e canais de youtube que são profissionais em termos de viagens. Todo mundo conhece um. Eu gosto do Viagem na Viagem, pode googlear.

Stones Planet Brazil – Trata-se, muito provavelmente, da banda que mais leva fãs a viajarem continentes para assistir seus shows. Quais suas expectativas com a No Filter Tour e o futuro dos Rolling Stones?

Como já vi alguns shows, a gente pede por algumas inesperadas. Adoraria ouvir Black Limousine,  100 Years Ago, Crazy Mama, Shine A Light, e por aí vai..

Stones Planet Brazil – É possível explicar o sentimento deste momento de espera? E o sentimento de segundo antes do início dos shows?

 Bernardo – Estou tranquilo, sabia? A minha ficha só cai na danada da imigração (risos). É lá que você vê que o negócio ficou sério.

Segundos antes do show eles passam um vídeo de abertura que acaba sendo um gatilho para que passe um filme pela cabeça com tudo que você fez até chegar ali, até o primeiro acorde do Keef ecoar pelo estádio. Dali para frente é viver o mesmo prazer de quando consertei meu toca discos.

Stones Planet Brazil – Uma mensagem para os fãs que irão a No Filter Tour:

Bernardo – Se virem alguém com a camisa do Santa Cruz pelos shows, podem dizer um alô para mim.

 


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