Who the fuck are The Rolling Stones?
A história dos Rolling Stones tem muitos começos – num vagão de trem, num banheiro de escola, nos fundos de um pub, num clubinho de blues, no quartinho fétido de um prédio condenado -, envolve um punhado de protagonistas fundamentais – o músico genial e visionário, capaz de dominar qualquer instrumento, mas não a si mesmo; o publicitário apaixonado por jazz e ternos bem cortados; o queixudo gorducho e fã de boogie-woogie; o baixista dono de um amplificador novo, potente e, sobretudo, democrático – e coadjuvantes preciosos – o purista que acrescenta doçura e elegância à violência e à sujeira do som da banda; o divulgador ambicioso e criativo que indica o caminho para o futuro; o advogado que dá uma lição de showbiz para a vida inteira ao salvar a pele corporativa do quinteto só para passar-lhe a perna na virada da curva; o eterno “novato”, mesmo com mais de 30 anos de serviços prestados.
O provinciano Brian Jones – cara de anjo, temperamento difícil, talento impressionante, alma lotada de demônios – foi a semente, o organizador e a força motriz inicial por trás do grupo; e foi o sujeito que escolheu o nome que viraria uma das marcas mais conhecidas da ala do panteão rock reservada aos gigantes: The Rolling Stones., a banda que pertenceu só a ele mesmo até o momento em que se mostrou incapaz de compor. Sua insegurança e seu espírito autodestrutivo, turbinados pela ascensão da dupla compositora dos Stones, se encarregaram de aniquilá-lo.
No frigir dos ovos, a história dos Rolling Stones é, em boa parte, a história de amor, ódio e destino que liga Mick Jagger e Keith Richards: yin e yang. Luz e sombra. Feitos um para o outro. Irmãos de pais diferentes.
Menos de cinco anos, se tanto: é esse o tempo que Mick Jagger e Keith Richards passaram sem um existir na vida do outro. Eles se conhecem desde 1947, quando ambos frequentavam a Wentworth Country Primary School, em Dartford, a 25 km de Londres. Apesar de separados temporariamente no início da adolescência – enquanto Jagger estudava na Dartford Grammar School e Keith ia para a Dartford Technical School -, os caminhos de Mick e Keith se cruzariam vez após vez. Até a vida dos dois se entrelaçarem por completo, para sempre.
Mick, o atleta que queria ser político, até desistir da carreira ao constatar que naquele ramo demoraria muito a entrar dinheiro de verdade. Keith, o filho de operário e neto de músico, cujo mundo era basicamente circunscrito aos sons que chegavam dos Estados Unidos trazendo a música de Chuck Berry e Fats Domino. Richards deu status de cool ao rapaz de classe média alta, aluno da da prestigiosa London School of Economics, presenteou-o com a tão valiosa “credibilidade de rua”. Em troca, Jagger transformou Keith num astro do rock.
*Trecho de Sexo, Drogas e Rolling Stones, página 15 (prólogo), de Nelio Rodrigues e José Emílio Rondeau, editora Agir, 2008.
*Texto reproduzido com a permissão dos autores.