Recebemos agora por e-mail as respostas de Bill German sobre os Stones e mais particularmente a respeito de seu livro Under Their Thumb, que está ganhando versão nacional e que já pode ser encomendado pela internet em várias lojas brasileiras. Primeiro fizemos algumas questões ao autor e logo a seguir ele responde às perguntas dos leitores.

Stones Planet Brazil – A realidade dos Stones é muito diferente daquela imaginada pelos fãs. Considerando a tua experiência com a banda, o que confirma ou desmente as lendas em torno do grupo?
Bill Geman – A grande surpresa para mim convivendo com os Stones foi o estilo de vida deles, como eles são normais atualmente. Obviamente eu li todas as histórias selvagens sobre eles nos anos 1970 e assisti a filmes como CS Blues. Mas no começo dos anos 1980 eles eram caras normais, com esposas, namoradas e filhos pequenos. Eles viajaram muito por todo lado e havia alguns “amigos estranhos, mas eles eram basicamente caras decentes quando viveram e trabalharam em Nova York.

SPB – Musicalmente qual foi o momento mais mágico de sua experiência com os Stones?
Bill German – Musicalmente falando existiram vários momentos mágicos para mim… Normalmente em situações bastante privadas. Eu amei alguns dos concertos deles em arenas ou estádios, mas os momentos mais bacanas foram na cozinha da casa do Ronnie quando ele e Keith fizeram uma jam acústica tocando coisas dos Beatles e de Buddy Holly. Ou então quando Keith, Ronnie e Charlie estavam em estúdio fazendo jam por diversão, sem pressão para vender discos ou ingressos e sem preocupações com os críticos ou a mídia.

SPB – Mick e Keith não estiveram no tributo recente a Ian Stewart. Como você viu essa ausência?
Bill Geman – Eu acho que realmente teria sido bom se os dois tivessem comparecido. Mas eu acho que eles são caras ocupados. Eu não vou especular sobre as razões de cada um deles, e eu não posso entrar na cabeça deles. Talvez tenham sentido que a homenagem de 1986 (no 100 Club, que está entre os meus momentos musicais favoritos) tenha sido suficiente. Obviamente por questões de relações públicas ambos deveriam ir ou ambos teriam de faltar. Não teria sido uma situação boa se um deles tivesse ido e o outro não. Eu diria até que eles conversaram e combinaram de não ir. Talvez tenha sido legal a ausência deles, porque o foco ficou maior sobre a homenagem ao Stu.

SPB – Você teve de cortar bastante o livro. Há muitas histórias que ficaram de fora. Talvez possa lançar um segundo livro? Poderia contar alguma das histórias que não foram usadas?
Bill German – Eu tive de cortar um monte de coisa de Under Their Thumb, mas apenas por questão de espaço. A maior parte das coisas que deixei de fora tinha mais a ver com a minha vida pessoal do que com os Stones. Por exemplo, eu tive histórias com meu melhor amigo, que era um cantor. Em 1982 eu convenci Andrew Loog Oldham a ir ver o show da banda dele e eles assinaram contrato de gerenciamento de carreira. Era uma coisa totalmente à parte dos Stones. Eu conheci Andrew quando eu tinha 19 anos. Em 1986 eu levei meu amigo para a festa de aniversário do Ronnie. Meu amigo ficou constrangido ao interromper uma jam entre Ronnie e Mick Jones por estar cantando muito alto. Esta história tem relação com os Stones, mas achei que era mais relacionada ao meu amigo. Há um monte dessas histórias loucas que talvez possa colocar em outro livro.

SPB – Foi muito complicado escrever Under Their Thumb?
Bill German – Foi complicado porque eu tinha histórias demais para contar e tinha de decidir quais usar. Também foi difícil escrever sobre algumas das minhas desilusões. Outra parte difícil foi saber que algumas pessoas podem não estar felizes comigo por eu ter escrito a verdade.

Luciano Teles, Rio de Janeiro – Você acredita que hoje em dia outro fã conseguiria ter o mesmo acesso que você teve aos Stones?
Bill German – Não, eu não acho que o que eu fiz com a Stones poderia ser feito novamente hoje. Há pessoas demais a cercá-los agora, especialmente em turnê. Pessoas de negócios, seguranças, etc. Quando eu estava perto deles, era tudo mais casual. Mick, Keith e Ronnie viviam em Nova York, como pessoas normais. E por mais estranho que pareça, eu acho que eles precisavam de alguns amigos na época. Eles estavam um pouco solitários.

Leandro Siqueira, Rio de Janeiro – Há algum momento que você gostaria que se repetisse, que adoraria repetir?
Bill German – Se eu pudesse repetir algum momento com os Stones poderiam ser aqueles momentos musicais, como assistir a eles fazerem jam na cozinha do Ronnie ou tocarem blues em um pequeno clube noturno com Clapton, Beck e Townshend.

Nelio Rodrigues, Rio de Janeiro – Você mantem contato com os Stones?
Bill German – Eu sei que é difícil para um fã entender, mas enquanto eu estava escrevendo Under Their Thumb, eu tive que me separar dos Stones para que eu pudesse pensar sobre as minhas experiências de forma honesta e imparcial. Eu não falei com qualquer dos Stones pessoalmente por alguns anos. Mas, ocasionalmente, vejo pessoas que estão muito próximas a eles e eu envio o meu abraço. E um dos familiares do Keith me disse que todos nós deveríamos ficar juntos para jantar em breve. Então, nós vamos ver se isso acontece.

Tamara Guo (Blue Lena), Pittsburgh – USA – Algum dos Stones leu o seu livro?
Bill German – O único para quem eu mandei o livro foi Keith, mas eu ainda não ouvi nada sobre ele ter lido. Como você sabe, Keith não é o tipo de cara para pegar o telefone ou enviar um e-mail ou mensagem de texto. Algumas pessoas que estão perto do Keith me disseram que ele achou o livro ok. Às vezes eu acho que ele está feliz com o livro (uma vez que ele sai tão bem nele) e às vezes eu acho que ele ficou chateado, pois eu falo sobre coisas que ele poderia ter preferido manter em sigilo. Finalmente, meu objetivo era escrever um livro que milhares de fãs dos Stones gostassem e não um livro para que quatro ou cinco Stones gostassem.

Manuela Pierro, França – Quem escreveu Jumpin’ Jack Flash e o que você pensa sobre a música?
Bill German – Keith diz que ele escreveu JJF e que era sobre um jardineiro. Eu vou acreditar nele. Brincadeiras à parte, eu não tento especular sobre o que as letras dos Stones – ou as letras de qualquer um – querem dizer. Como qualquer grande peça de arte, as músicas dos Stones podem ser interpretadas de muitas maneiras pelas diferentes pessoas que as ouvem. O trabalho de um artista é muitas vezes apenas provocar para fazer as pessoas pensarem e não para fornecer respostas.

Álvaro, Rio de Janeiro – Qual dos Stones foi mais difícil de lidar? Você diz que o Mick ficou insuportável nos anos 1980.
Bill German – Sim, Mick foi muito difícil de lidar, por vezes, nos anos 1980. Mas ele fez algumas coisas boas para mim, também. Eu tenho um capítulo no livro sobre Mick chamado “um bando de Caras Legais”, porque é assim que Keith e Ronnie o definem. “Um bom punhado de caras”. Devido à sua personalidade, seu humor pode mudar tão depressa do bom ao desagradável. Mas acho que muitas das atitudes do Mick têm a ver com negócios. Ele pode ser bom quando ele precisa ser bom e ser mau quando ele precisa ser mau. Devemos também lembrar que Mick tem mais demanda em seu tempo do que Keith ou os outros, porque ele é mais famoso. O que eu quero dizer é, se você perguntar para uma velhinha na rua sobre um Rolling Stone, ela vai lembrar do Mick. A propósito, como você pode ler em Under Their Thumb, Charlie também foi difícil para mim, pois ele estava sempre tão tímido e isso é realmente uma das partes engraçadas do livro.

Rolando, Portimão – Portugal – O rock and roll seria o mesmo sem os Rolling Stones?
Bill German – Não, o rock ‘n roll não seria o mesmo sem os Stones. Eles contribuíram com tantas coisas para o rock ‘n’roll. Antes dos Stones, as bandas usavam uniformes. Os homens não podiam ter cabelos longos. Certos tópicos (como sexo e drogas), não podiam ser discutidos em canções. As bandas não usavam seu próprio equipamento de som nos shows. As bandas não tinham patrocínio. (Não estou dizendo que todas as idéias dos Stones eram boas!). Os Stones foram os primeiros a fazer muitas coisas para o rock ‘n’roll, e houve centenas de bandas que foram influenciadas por eles nos últimos 49 anos.
Rolando, Portimão – Portugal – Como é a relação entre Mick e Keith? Apenas negócios?
Bill German – Lamento ter de dizer isso, mas acho que acho que relação entre Mick e Keith é praticamente apenas uma parceria de negócios, pelo menos nos últimos 25 anos ou mais. Eles não passam muito tempo juntos como amigos. Mas por outro lado, eles são como irmãos, que nunca podem ser totalmente separados. Eles sempre estarão um metido na vida do outro. Ame ou odeie.

Júlia Cavalcante, São Paulo – Eu gostaria de saber o que você queria destacar sobre os Stones quando escreveu o livro. Alguns livros são sobre grandes escândalos, alguns são sobre vidas pessoais, outros livros botam depoimentos de pessoas que estão próximas a eles, e outros livros relatam fatos obscuros e desconhecidos. Os Rolling Stones têm uma longa história, que parte dela você pretendeu destacar?
Bill German – Um dos temas do livro era capturar os Stones como seres humanos, porque é assim que eu os vi. Mas o livro também captura um período que não está escrito em outros livros: O momento em que parecia que as pedras poderiam quebrar-se (meados de 1980) e, em seguida, em 1989, quando eles voltaram a ficar juntos para as mais bem sucedidas turnês de sua carreira. Alguns poderiam dizer que foi por dinheiro, alguns poderiam dizer que era para o legado dos Rolling Stones e alguns poderiam dizer que foi porque eles amam a música. Durante todos os altos e baixos, o livro revela muitos momentos obscuros, desconhecidos e fatos bem-humorados sobre a banda.

Danielle, Porto Alegre – Você poderia nos dizer como era a rotina dos Stones?
Bill German – A banda passou por muitas fases diferentes durante o meu tempo em que estive em torno deles. É difícil descrever um dia de rotina para eles. Durante as sessões de Dirty Work, Mick e Keith raramente se viam. Mick ia para o estúdio por volta de 7 ou 8 horas da noite e saía à meia-noite, momento em que Keith e Ronnie estavam chegando. Keith e Ronnie ficavam no estúdio até amanhecer. Mas, durante as sessões de Steel Wheels, Mick e Keith trabalharam um pouco mais próximos. Durante a turnê desse ano (1989), a rotina normalmente foi assim: Mick fazia jogging no começo da manhã, e em seguida havia reunião com todos os homens de negócios, enquanto Keith ainda estava dormindo. Mas, às três horas todos se reuniam no interior do hotel. Era quando eles rumavam para o estádio para fazer uma verificação de som. Mick e Keith, então, conversavam sobre as canções que tocariam no show daquela noite. Keith me disse uma vez que o mais pacífico momento entre eles era quando o show começava.

Victor, Recife – Como você analisa o papel de Bill Wyman nos Stones na última década dele com a banda, 1981-1991?
Bill German – O papel de Bill Wyman nos Stones foi importante até o último show (1990) e sessões de gravação (1991). A sua sessão ritmica com o Charlie foi a melhor de sempre do rock and roll. Acho que Bill está muito orgulhoso do seu trabalho com os Rolling Stones, mas ele achou que já era o suficiente para ele daquele negócio de viajar de avião. Ele sempre foi muito agradável durante os anos em que convivi com os Stones, mesmo quando me encontrei com ele novamente, no verão de 2002. Mas eu não fui muito próximo a ele, como eu era a Keith e Ronnie, porque ele morava longe.

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