Rolando Rebelo passou os últimos três anos de sua vida trabalhando num sonho. Bibliotecário em Portimão, no Sul de Portugal, o lusitano de raros (e ralos) cabelos está habituado com os livros. Por suas mãos passam diariamente centenas de obras, dos mais diferentes estilos e autores. Num misto de devaneio e realidade, Rolando um dia deu um salto inesperado e decidiu escrever um livro sobre a banda que compôs a trilha sonora de seus 45 anos de vida. Inspirado em projetos anteriores, “Os Rolling Stones em Portugal – uma viagem alucinante pelos bastidores da maior banda do mundo”, começava a ganhar forma.
Durante o processo de criação, o livro que abordaria as passagens dos Stones pela “terra de Cabral”, foi crescendo. Como tudo, foi sendo concebido aos poucos. Ganhou pernas e cruzou fronteiras, recolhendo material em muitos idiomas diferentes, embora todos unidos pela paixão stoneana.
Quando Rolando mencionou que iria entrevistar os quatro Rolling Stones, foi chamado de louco. Ninguém havia conseguido isso e seria preciso superar uma legião de advogados e assessores. Como a loucura acompanha os grandes homens, os Rolling Stones em Portugal está sendo lançado com contribuições de Mick, Keith, Charlie e Ronnie, além de vários integrantes da banda de apoio dos Stones e de uma infinidade de personagens, dos mais famosos e importantes  ao mais desconhecido fã dos confins da América do Sul.
É este livro que temos a satisfação de apresentar na entrevista publicada logo abaixo. Os Rolling Stones em Portugal revela a paixão de um fã, que temos a satisfação de resumir nesta entrevista concedida por Rolando Rebelo a Stones Planet Brazil.


1) O livro levou três anos para ser escrito. O que ele traz de novo, que seja diferente dos demais título do estilo, como as edições lançadas em Brasil, Espanha, Suécia e Peru?
Tem varias coisas que os distinguem dos demais citados, todos eles livros importantíssimos e inspiradores, a começar por revelar algumas das memórias de Jagger, Keith, Charlie e Ronnie de Portugal, além de outros músicos que acompanham a banda há mais de 30 anos, como Chuck Leavell, Bernard Fowler, Tim Ries, Darryl Jones, Blondie Chaplin, Kent Smith e Michael Davis. Outra das diferenças é que tentam traçar as influências musicais dos Stones na música rock portuguesa, dando voz aos seus principais intérpretes, que não só revelam esse lado stoneano que existe dentro deles, como ainda contam como foram os seus encontros com os elementos da banda, cedendo fotos pessoais destes encontros pela primeira vez.

2) Chegar aos Rolling Stones certamente foi muito complicado e houve a necessidade de muita persistência. Como conseguiste os depoimentos dos quatro Stones?

Há uma linha muito ténue que divide o fã e o stalker! E era preciso deixar bem claro que eu era um fã e não algo mais que isso. Os contatos foram feitos a partir do momento em que já dispunha de um leque de testemunhos de personalidades revelantes na história dos Stones, base essa que me deu credibilidade para depois abordar os Stones individualmente. Foi complicado e bem difícil, porque mais do que uma vez ouvi a palavra “não”. Mas o “não” estava e está sempre garantido, o resto que vier é extra. Mick Jagger, por exemplo, foi aquando de uma viagem a Londres, para assistir ao concerto de tributo do pianista Ian “Stu” Stewart, que fiz uma visita à advogada de Mick Jagger, e que me avisou logo de imediato do volume mensal das propostas que o vocalista recebe. Felizmente desse monte saíram duas com ele para casa, sendo que uma delas era a minha. Mas é preciso paciência e por isso  levou três anos.

3) Qual deles foi o mais difícil?

Ronnie Wood! Ao fim de 16 e-mails num ano, ele me chamou de “maluco”! Mas não resistiu ao meu charme e aos pedidos de amigos em comum para participar.

4) O que Bill Wyman argumentou para recusar-se a participar?

Do Bill recebi um e-mail dele dizendo que estava farto dos Stones e que já tinha saído. Eu até tenho boas relações com um bom amigo dele, que inclusive entra no livro. Richard Havers, mas de nada serviu.

5) Dos relatos portugueses, qual tu consideras que tenha sido o mais marcante, emocionante (importante, certamente, todos foram)?

Todos, todos eles são muito importantes, porque são relatos honestos. Todavia este livro foi abençoado por ter uma das figuras mais icônicas do rock português, Zé Pedro, dos Xutos&Pontapés, como padrinho e por ter sido a primeira entrevista que fiz na minha vida a uma estrela do rock´n´roll.  Prova de ela ter corrido tão bem,  é a nossa amizade, além ser convidado frequente para os concertos dos Xutos é ter extravasado para o campo meramente pessoal e hoje em dia é um dos meus bons amigos nos bons e maus momentos.

6) Qual foi o momento mais tenso, que o fez pensar em desistir do projeto? 

Houve uma altura que após receber tanto “não” para conseguir qualquer testemunho dos Stones que pensei em talvez ficar-me por aqui. Mas duraram apenas algumas horas esses pensamentos…

7) O staff dos Stones é muito famoso por impor barreiras, impedindo que as pessoas cheguem até o grupo para apresentar projetos como o teu. Que argumentos usaste, especialmente com relação à participação de Mick Jagger?

Muito sinceramente, a linguagem do Rock´n´Roll; a da honestidade, frontalidade e da ousadia misturada com humor e irreverência.

 8) Tens centenas de fotos, algumas feitas pelos melhores fotógrafos do mundo. O que podes considerar como sendo a jóia da coroa?

UI!! Para este livro recebi cerca de 2.500 fotos, muitas delas inéditas, das quais cerca de 460 irão entrar no livro. E depois há as fotos pessoais dos músicos portugueses que me cederam para publicação pela primeira vez. Muito difícil de escolher entre tantas belas fotografias.

9) A edição inicial deve ser de apenas 2.000 exemplares. Há possibilidade de uma segunda edição maior, pois acredita-se que o livro vá esgotar-se praticamente no instante do seu lançamento? Haverá chance de venda do livro no Brasil?

O mercado atual não está famoso no panorama livreiro. Dai que se tenha optado por apenas fazer apenas 2.000 exemplares. Para se fazer uma segunda edição teríamos de comprar as fotos que entraram na primeira edição, visto que para esta todos os fotógrafos as cederam gratuitamente. Para o Brasil, o Stones Planet Brazil será o embaixador deste livro e qualquer novidade será encontrada no blog, inclusive, a data de lançamento e o modo como adquirir o livro.

10) Que contribuição o livro Os Rolling Stones no Brasil, de Nelio Rodrigues, teve para o teu trabalho?

Esse livro do Nélio foi uma inspiração e uma pedra fundamental. Já o li e reli mais que uma vez, assim como o Sexo, Drogas e Rock´n´Roll também do Nélio e do José Rondeau.