Foto Charlotte Schultz/arquivo pessoal
Por André Ribero
Charlotte Schultz esteve à frente do Rolling Stones Fan Club Office (RSFCO) durante 45 anos, até que decidiu parar com tudo em 2009, cansada de dedicar tanto tempo à causa e pretendendo ter mais espaço para seus projetos pessoais e profissionais. Pia Schultz é dinamarquesa, mas há alguns anos vive na França e aceitou contar um pouco de sua experiência, que inclui um número incontável de shows dos Stones, grande parte deles com Brian Jones. Charlotte pouco ou nada mais ouve da música dos Stones. Mas suas memórias continuam vivas e algumas delas serão aqui contadas, com exclusividade a Stones Planet Brazil.

STONES PLANET BRAZIL – O Rolling Stones Fan Club Office começou em 1964, no teu quarto, na casa dos teus pais, na Dinamarca. Como foi esse começo? Por que quis criar o fan club e quem te ajudou? De quem foi a ideia? Conte para a gente sobre o começo do fan clube, antes de ele ser oficializado.
Também queremos saber como ocorreu a permissão para que abrissem um fan club oficial para Escandinávia e Reino Unido. Você recebeu um documento com a permissão. De quem foi a permissão?
CHARLOTTE SCHULTZ – Comecei a me
interessar por música quando tinha 10 anos, em 1958, época em que me associei
ao fã-clube inglês de Elvis Presley. Alguns anos depois meu pai perguntou se eu
poderia ajudar uma artista dinamarquesa com seu fanmail. Sua irmã mais velha
era secretária dele, e a artista era Gitte Hænning, que ainda é famosa na
Escandinávia e Alemanha. Meu trabalho era envelopar sua foto assinada e mandar
isso para a gravadora na Alemanha, e assim começou. Conversando com outras duas
pessoas, tivemos a ideia de iniciar um fã-clube em 1963 e escrevemos para os
Beatles, mas eles já tinham um fã-clube dinamarquês. Por isso, resolvemos
montar um para os Stones, que nos responderam que já havia um fã-clube
escandinavo na Holanda. Respondemos que a Dinamarca não era a Holanda, e assim
tivemos permissão para começar o fã-clube para a Dinamarca e para a Suécia.
Tínhamos muitos membros e fazíamos um pequeno fanzine.
O fã-clube era dirigido aos fãs escandinavos e
foi oficializado com a permissão do fã-clube inglês dirigido por Annabelle
Smith. Como nosso fanzine passou a ir bem, o fã-clube inglês passou a se
concentrar em fazer as 30 edições da Rolling Stones Monthly, como fizemos com
Stones Planet muitos anos depois
SPBR – Qual foi o primeiro show dos Stones que você viu? Onde foi, como foi? O que mais te impressionou?
CHARLOTTE – Meu primeiro show foi em Copenhague, na Tivoli
Concert Hall em março de 1965. Foi um grande momento. Encontramos os roadies em
um restaurante e depois conseguimos os autógrafos dos Stones, antes do show.

SPBR – Há sempre muito curiosidade sobre o Brian. Como era ele em cena, ao vivo com a banda?
CHARLOTTE – Eu gostava muito de Brian, ele era muito gentil.
Não lembro de qualquer problema entre ele e a banda na época.
SPBR – Estar na plateia num show dos Stones nos anos 60 era uma experiência marcante, imagino. Como era essa relação da banda com o público? A gritaria das fãs? Você também chegou a gritar e se rasgar pela banda em shows?
CHARLOTTE – Os shows eram muito
barulhentos, de parte a parte. As pessoas gritavam e a banda precisava cobrir
isso a seu jeito, tocando, pois todos os fãs, rapazes e moças, gritavam muito.
Algumas lojas tiveram seu funcionamento interrompido após alguns tumultos
formados pelos fãs, como a Tennis Hallen, em Estocolmo.
SPBR – Chegaste a ter algum contato direto com a banda nestes anos todos? Com o Brian, especialmente? Conte, por favor, que lembranças tem desses encontros, se ocorreram.
CHARLOTTE – Encontrei os Stones algumas vezes em Londres, e ajudei Charlie com seus cavalos uma vez, o que fiz com muito prazer. 

SPBR – A morte do Brian certamente foi traumática. Que reflexo ela teve na tua vida e no fan clube, bem como nos fãs, claro? 
CHARLOTTE – Eu me casei no mesmo dia em que Brian morreu,
então não preciso dizer mais nada…
SPBR – A entrada de Mick Taylor na banda, de começo foi aceita por todos? Como você se sentiu na época? E depois como se sentiu em relação à entrada do Ronnie?
CHARLOTTE – Tanto Mick quanto Ronnie são OK, mas a formação
original jamais deveria ter sido substituída.
SPBR – Que tipo de relação você tem hoje com os Stones, com a música deles?
CHARLOTTE – Eu os ouço de tempos em tempos no rádio, mas já
não toco mais meus discos. Meu interesse é pela música feita entre 1958-1962,
que era tocada na época pela Rádio Mercur, DCR (nota: esta foi uma das primeiras rádios piratas de que se tem notícia, e serviu de inspiração para as posteriores, como a inglesa Caroline e a holandesa Veronica).
SPBR – O RSFCO editou uma newsletter nos anos 60. Como era? Qual comparação pode ser feito com o Stones Planet Fanzine, que foi editado pelo fan clube entre 1999 e 2009?
CHARLOTTE – O fanzine que fazíamos era pequeno, o grande
trabalho veio com a Stones Planet, e Blue Lena fez um ótimo trabalho
editando-a (entre 1999 e 2009 o RSFCO teve um fanzine chamado Stones Planet, que era editado pela norte-americana Tamara Guo, mais conhecida como Blue Lena. A revista era muito bem feito e recebia muitos elogios dos leitores).
Fotos André Ribeiro
Exemplares do Stones Planet Fanzine
SPBR – Por que você decidiu parar com o fan club? Falta de apoio dos Stones, perda de interesse pela música? Competição entre fãs e sites de fãs sobre a banda?
CHARLOTTE – Meu interesse pela banda foi-se acabando à
medida em que comecei a me interessar por casas de campo e offshore music (música tocada pelas estações de rádio piratas).
A época do RSFCO foi divertida, mas eu acho que
fã-clubes que editam revistas hoje não se mantêm, em especial com todas as
possibilidades midiáticas que temos hoje.
SPBR – Se os Stones lessem esta entrevista, o que gostaria de dizer a eles? E aos fãs mais fanáticos dos Stones, que irão lê-la?
CHARLOTTE – Vocês (Stones) não deram a devida atenção aos
fã-clubes locais em todo o mundo. A vida é mais do que dinheiro, e acho que os
Stones esqueceram disso.
Camisa e logo do RSFCO

Carteira de sócio do RSFCO

** Tradução: Cristiano Radtke