Mick e Keith deram uma entrevista para Mark Ellen, da revista Esquire deste mês, e que publicamos a seguir.
As celebrações pelo 50º aniversário da banda incluem shows, exibições, livros, documentários, uma nova coletânea e novas canções. Mark Ellen encontrou Mick Jagger e Keith Richards para conversar sobre o passado, presente e, sim, sobre o futuro dos Rolling Stones.
Por que você acha que os Rolling Stones têm durado esse tempo todo?
Keith: Porque somos muito bons e realmente amamos o que fazemos e o fazemos para nós mesmos. E eu não falo de dinheiro – claro, você não se importa de ser pago – mas que não é isso que move a banda. Às vezes eu penso, “o que você realmente quer, Keith?”. Você podia ficar em casa, pintar um pouco ou escrever, ou qualquer outra coisa.
Mas há alguma coisa meio magnética que diz que o que eu realmente quero fazer é tocar com Charlie, Mick e Ronnie. Essa é a força que é indescritível. Você coloca este bando em uma sala com alguns microfones e instrumentos e algo vai sair disso. Nós somos forçados a fazer isso!
Qual a dinâmica quando vocês estão trabalhando juntos?
Keith: Acho que muito da energia vem do fato de nós não trabalharmos juntos por algum tempo. Ora, cinco anos longe da estrada, eu estava ficando impaciente! E aí Mick e eu aparecemos com algumas canções.
No início eu disse “Ei, Mick, Doom and Gloom é um título meio esquisito para uma celebração de 50 anos, não?” Mas você sabe como são os Stones, sempre na contramão. Mas ele veio com essa, que é uma grande música e realmente engraçada, na verdade – ela tem uma boa letra.
Daí, no outono em Paris, gravamos Doom and Gloom e One More Shot. Acho que os Stones jamais gravaram uma música tão rapidamente. Foi algo como três takes e – boom! Nós nos olhamos e pensamos “Tem mais alguma coisa?” Foi supreendentemente rápido.
Nisso os Stones são surpreendentes, por toda a química e energia quando estão juntos. O difícil é juntá-los, mas assim que isso acontece, mesmo depois destes anos todos, é algo incrível. Você pensa “deve haver mais alguém na sala!” Há esta outra entidade que meio que conduz tudo – qualquer que seja o nome!
O que você acha que a banda representou quando vocês começaram e o que você representa hoje?
Mick: Quando começamos, éramos uma banda de blues tocando para universitários nas terças e representávamos algo novo e divertido. Daí o público passou para os estudantes de arte e éramos como uma banda de universitários e tocávamos blues – um pouco de r&b e rock’n’roll, mas blues, em geral.
Quando nos tornamos populares, nos tornamos algo completamente diferente, uma banda de adolescentes. Éramos como jovens ídolos para os adolescentes por um bom tempo. Então nos tornamos uma banda de universitários de novo, passamos por muita coisa, diferentes coisas para diferentes públicos.
Eu encontrei algumas garotas que costumavam nos seguir pela Inglaterra quando elas tinham 16 anos. Elas vinham aos shows, assinávamos autógrafos pra elas e eu lembro vagamente delas por algumas fotografias no Daily Mirror que se tornaram famosas. Elas vieram à exposição de fotos em Londres, na Somerset House, e disseram “você não lembra de nós?”
Eu disse, “acho que lembro de você”, e nós demos mais autógrafos de novo. Então, para elas, nós éramos um tipo de banda adolescente. Não acho que elas pensem em nós como rebeldes ou coisa do tipo, éramos apenas uma banda adolescente.
Muita coisa mudou desde que você lançou discos “escandalosos” como “Let’s Spend the Night Together”. O quanto você acha que os Stones tiveram parte nessa mudança de atitudes?
Mick: Eu acho que os Stones estavam na vanguarda de uma abordagem mais honesta em geral da música popular, isto é, com letras mais diretas, refletindo o que as pessoas então pensavam, mais do que toda a música açucarada que havia na época. Nós viemos do blues, então tudo isso tem a ver com essa origem – e os compositores influentes, como Bob Dylan e outros.
Muita da imagem é criada, claro – a maioria com o seu consentimento – e você está fazendo seu papel. Mas havia muito antagonismo aos Stones naquela época, o que é praticamente impossível imaginar hoje. É difícil para qualquer um, digamos, com seus vinte anos hoje, imaginar o porquê havia todo esse barulho em relação a nós. É muito difícil hoje se imaginar naquele tempo – mesmo pra mim isso é difícil.
É muito difícil compreender por que havia tudo isso. Claro que houveram alguns incidentes, mas o comportamento hoje é tão aberto e as pessoas fazem todo o tipo de coisa. Então eu suponho que era chocante (na época).
Dean Martin uma vez os apresentou meio que a contragosto em um programa de TV em 1964 dizendo “eles provavelmente estão tirando pulgas um do outro no camarim”. Esse tipo de tratamento os estimulou de alguma forma?
Keith: Eu diria que sim, de alguma forma. Dino (como também era conhecido Dean Martin) era um cara adorável e ele podia falar o que quisesse, o show era dele. Mas eu imagino quantas pulgas tivemos que catar, sabe? Eu não podia bater no cara, seria meio antiprofissional. E eu era um amador, recém tínhamos começado. Daí “o quê? Obrigado, Dino!” Eu estraguei sua filha, não me importo!
Alguma vez você pensou que os Stones tivessem sido derrotados?
Mick: Não, realmente. Não somos um time de futebol!
Keith: Nunca derrotados, mas eu vi a possibilidade de ser preso, o que me fez querer ficar limpo. Em Toronto eu percebi que tinha passado dos limites e era a hora pra isso. Foi um merecido chute na bunda, e a única vez que vi alguma desgraça e melancolia (fazendo um trocadilho com Doom and Gloom).
Se hoje pudesse conversar com o você de 20 anos, que conselho daria?
Mick: “Vá em frente, vai dar certo. Você vai durar, não se preocupe.”
Keith: Eu diria “não faça isso de novo!”
Descreva um momento em que você percebeu que chegou lá, que conseguiu o que queria.
Mick: Acho que quando gravamos o primeiro single e ele chegou às mais baixas posições da parada, mas eu estava muito contente com isso – e isso era o “chegar lá”, até onde sabemos. Também era fazer uma turnê pela Inglaterra e ser a última banda – ou quase. Antes a gente tocava em clubes pequenos e ninguém vinha nos ver, então foi um enorme passo.
Houve algum momento em que você achou que isso duraria 50 anos?
Mick: Não. Provavelmente não é uma boa coisa a se pensar. Talvez seja melhor nem pensar nisso.
Há alguma coisa dos Stones que tenha sido mal compreendida?
Mick: Não, já fomos criticados duramente. Não estou aqui pra limpar a barra.
O passado é um território meio perdido e esquecido, e todos têm diferentes pontos de vista sobre o que aconteceu. E quando tentam evocar suas memórias, alguém sempre dá uma mudada, em geral em benefício próprio. Então, a base da memória das pessoas é muito falha. Cada um tem um jeito diferente de dizer o que aconteceu.
Sabe essas experiências que fazem quando mostram, por exemplo, um filme com um acidente para 10 pessoas e elas têm de dar sua versão? É completamente diferente de pessoa para pessoa, então imagine isso em toda uma vida.
Você já confrontou as autoridades tantas vezes – foi preso, questionado por bispos na TV…
Mick: Amo bispos grelhados (trocadilho com grilled)! É como eles deviam vir, com um pouco de azeite de oliva.
… qual foi o maior confronto entre os Stones e a sociedade com valores antiquados ?
Acho que todo o circo em Redlands foi uma armação. O (jornal) News of the World – hoje extinto – na época não era de Rupert Murdoch, mas eles eram medonhos. E o envolvimento da polícia com eles, muito parecido com as acusações que foram feitas recentemente, mostra o quanto ela estava dominada pelo jornal, e por aí vai.
Eles conspiraram para essa prisão por drogas e em seguida fizeram disso um escândalo, e disseram que éramos uma ameaça à sociedade! Era uma festa inocente de fim de semana – um pouco boêmia, digamos – mas o que você espera?
Muita gente fazia isso em todo o mundo. Mas é interessante ver que o The Times nos defendeu, e ele era um dos pilares do Sistema. Era como o New York Times para os Estados Unidos. Foi meio estranho, pois você tinha a imprensa marrom (o News of The World) contra você e o The Times vindo em sua ajuda, dizendo que tudo foi uma tempestade em copo d’água.
Mick, o seu relacionamento com Keith já foi descrito como um casamento. Como está sua vida de casado hoje?
As pessoas dizem as coisas mais imbecis, e essa é uma das maiores, porque uma coisa é estar casado e outra completamente diferente é trabalhar com alguém. Eu trabalho com Keith e o conheço há muito tempo. Um casamento é algo completamente diferente, e digo isso por ter sido casado. Esta é uma relação de trabalho. Você sempre tem dias ruins com as pessoas com quem trabalha. Às vezes, elas podem ser realmente difíceis ou irascíveis, mas você tem que tentar e seguir em frente, e é isso que tento fazer.
Keith, como é seu casamento com Mick?
O que você espera depois de 50 anos? Você tem dois caras muito voláteis que passaram por muita coisa em sua vida e de alguma forma lidam com isso – quando olhamos um para o outro, olho no olho – dizemos “você sabe aquilo, eu sei aquilo, mas vamos em frente”. Há algo que nos guia. Às vezes eu o desprezo, e às vezes eu o amo tanto. É como seu irmão. Eu nunca tive um, então ele é meu irmão. É desse jeito, abençoado seja.
Algum outro show de rock chega perto dos Stones?
Keith: Cara, eu vi Little Richard e Bo Diddley! Isso é rock’n’roll, baby! Fui muito privilegiado por estar lá e trabalhar com esses caras. Acho que qualquer músico, não importa quem seja – mesmo Mozart – sonha em ser como um desses caras, que vieram antes. Você quer tocar com ele, você quer ser ele. Você quer chegar perto de algo que te excita tanto que você quiser chegar perto disso e, se puder, superá-lo – bem, isso é outra coisa. Mas ver Chuck Berry no seu auge, cara, isso é rock’n’roll, baby!
As turnês dos Rolling Stones continuam batendo recordes. Há ainda algum a ser batido?
Keith: Nunca olhei desse jeito. Algumas pessoas dizem “Oh, você quebrou este recorde ou aquele outro”. Recordes! Não quero quebrá-los, eu quero estabelecê-los! Nós não vemos isso como se fosse um reconhecimento.Estamos felizes por estar juntos e de ser capazes de tocar juntos e há milhões (de pessoas) que querem nos ouvir. Isso pra mim é surpreendente.
Os adolescentes estão vendo vocês hoje pela primeira vez. O que você acha que eles esperam de vocês?
Keith: O que há na vida? Há o ar que você respira e a comida que você come… e os Rolling Stones. Eles estão aí pra sempre, pra eles, do seu ponto de vista. O mundo não seria completo sem os Rolling Stones!
E as pessoas que os vêem há 50 anos, como elas vêem a banda?
Keith: Acho que elas nos deram uma licença para ser o que elas amariam ser se tivessem essa escolha. Talvez a gente seja seus desejos não realizados.
O que você está planejando para o 60º aniversário?
Keith: Sexagésimo – ainda temos algum tempo. Esses zeros vêm se aproximando – 30, 40, 50. Não vejo alguma razão por que deveria haver um 60. Ou isso, ou morremos trabalhando.
Entrevista legal!!!
Também achei. Não tem nada de muito novo, mas pelo menos tem uma abordagem um pouco diferente do que já estamos acostumados a ver por aí, em se tratando de Stones.
acompanho o relator
gostei da entrevista.