Antes do Beggars Banquet, quando os Stones gravaram o Their Satanic Majesties Request, muita gente imaginou que Brian Jones era o grande mentor do álbum por sua versatilidade e originalidade como instrumentista. Mas na verdade, tanto Brian quanto Andrew Loog-Oldham, o paranoico empresário da banda na época, foram contrários ao projeto.
Brian dizia que aquela onda psicodélica não era a praia dos Stones e que eles deveriam seguir no caminho do blues, que os tornou mundialmente famosos. Mesmo assim, Mick e Keith fizeram questão de levar o disco adiante. Muitos odeiam os resultados, outros adoram. E há quem goste e colecione o Their Satanic apenas pela capa em 3 dimensões e suas inúmeras diferentes versões.
Apesar de tudo indicar que o assunto deste post seja o álbum viajandão de 1967, o tema é outro. O nariz de cera do texto é para introduzir nosso real assunto: a definição de um estilo próprio e de uma sonoridade única por parte dos Rolling Stones.
O Beggars Banquet
Talvez a última grande contribuição concreta de Brian aos Stones tenha sido sua divergência quanto ao lançamento de Their Satanic Majesties Request. O disco, segundo o próprio Mick observou anos depois, foi uma “bobagem”. Mesmo que não concorde com a opinião de Jagger – o álbum tem faixas muito boas -, certamente aquela não era e nem seria a onda dos Stones.
A resposta comercial tímida, o disco teve cerca de 500 mil cópias vendidas nos Estados Unidos no período, fez os Stones perceberem que essa “criatividade” não era para eles. E isso obrigou Jagger e Richards, que já eram os chefes da turma, voltarem ao que sabem fazer bem: blues.
Beggars Banquet é possivelmente o disco mais definidor de estilo e talvez o mais importante da banda, justamente por isso. Há um antes e um depois em relação ao “Banquete dos Mendigos”.
Keith Richards começou a se aprofundar nas afinações abertas, não apenas em Open G, que é a mais famosa, mas em Open E e em inúmeras variações.
Os Stones haviam usado afinações abertas com Brian tocando slide, como em Little Red Rooster. Aliás, as afinações abertas eram muito comuns entre os velhos bluesmen que tocavam slide. Mas a partir de 1968, Keith começou a criar riffs, bases de guitarra usando afinações alternativas.
Nesta época surgiram Street Fighting Man e Jumping Jack Flash, que não entrou no Beggars Banquet, mas foi lançada meses antes, sendo fruto das sessões do disco. Destes temas em diante, passamos a ter o que podemos chamar de Rolling Stones. A base para o som definitivo da banda estava criada. E todo resto viria depois.
Nesta altura do campeonato, a participação de Brian estava restrita a praticamente nada. Ele quase não aparecia no estúdio e quando dava as caras, estava chapado demais para fazer qualquer coisa. Acabava dormindo atirado em algum canto. Talvez até pela ausência de Brian, Keith tomou as rédeas e se sentiu livre para criar o real som dos Stones, como ele queria.
Mesmo assim, Brian ainda fez um slide brilhante e emocionante em No Expectations, sua última contribuição à música dos Stones digna de registro.
O Let it Bleed
Apesar do momento de transição, da saída (e morte) de Brian à entrada de Mick Taylor, o ano de 1969 deu ao grupo um dos discos mais relevantes até hoje. Let It Bleed trouxe clássicos imortais e consolidou um novo estilo focado no blues, mas com uma assinatura stoneana.
Gimme Shelter, Midnight Rambler, You Can´t Always Get What You Want, Let it Bleed foram definitivas. Neste período, Honky Tonk Women saiu como single, sendo versão alternativa a Country Honky, que entrou no álbum.
Let It Bleed vendeu na época 2 milhões de cópias nos Estados Unidos, 4 vezes mais que o Their Satanic e o dobro que Beggars Banquet. Além de dar um novo som à banda, os LPs de 1968 e 1969 mostraram que os Stones não estavam no fim como outros grandes grupos, apesar de já naquela época os jornais cogitarem o término de suas Majestades Satânicas. Mais do que isso, esses discos mostraram a força comercial dos Stones e fizeram as tours de 1969 e 1970 venderem milhares de ingressos por Estados Unidos e Europa.
A definição da identidade sonora
Se me perguntam quando os Rolling Stones começaram de verdade – me refiro aos Stones que conhecemos hoje – respondo que foi em 1968. Antes disso tivemos uma fase maravilhosa de pesquisa, de procura de sonoridade, com grandes canções, com grandes álbuns, com Satisfaction, o maior hit da banda até agora, mas sem uma real autenticidade, que eles passaram a ter a partir do Beggars Banquet. O som que definiu os Rolling Stones nasceu no Olympic Studio, em Londres, entre março e julho de 1968.
Nota: obviamente isso é a opinião do autor. O texto expressa apenas uma opinião pessoal, sem pretender dar contornos de verdade absoluta a nada. Evidentemente haverá pontos de vista diferentes ao do autor.
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Sempre foi meu disco preferido deles, e se tivessem incluido ” Jumping Jack flash” ai seria covardia! podiam até se aposentar, ” Beggars Banquet” é a essência dos stones.
Beggar’s Banquet é sempre um disco interessante.
Alguns fatos:
Tanto a prensagem mono quanto a prensagem estéreo são praticamente iguais, sendo que somente Sympathy for the Devil tem uma mixagem ligeiramente diferente.
Parece que o lançamento original foi mixado em uma velocidade levemente mais lenta. E isso só foi corrigido após 2002 com o lançamento dos DSDs da ABKO.
Parece que as primeiríssimas prensagens americanas foram corretas.
1. Sympathy for the Devil 6:30 – 6:19
2. No Expectations 4:04 – 3:57
3. Dear Doctor 3:30 – 3:22
4. Parachute Woman 2:25 – 2:21
5. Jig-Saw Puzzle 6:20 – 6:06
6. Street Fighting Man 3:19 – 3:16
7. Prodigal Son 2:56 – 2:52
8. Stray Cat Blues 4:41 – 4:38
9. Factory Girl 2:14 – 2:09
10. Salt of the Earth 4:46 – 4:47
Eu particularmente prefiro a tal mixagem mais lenta.
E convenhamos, será que Mick Jagger, considerado um dos caras mais chatos em termos de mixagem, somente atrás de Bob Dylan, deixaria isso passar???
Oi Márcio, eis porque é bom ter um especialista em vinil no time. Isso é o tipo de questão à qual eu nunca me atentaria. Já pode até ser tema de um futuro artigo, que sabe?
João, eu pensei a mesma coisa. Se tivesse JJF no disco, ele teria vendido 2x mais do que vendeu na época, por exemplo. Isso vale tb pra Honky Tonk Women no Let it Bleed. Adoro Country Honk, mas ela não tem o apelo de HTW.
abração
Fi co imaginando o disco assim
1j Jumping Jack flash
2-sympathy f devil
3- street F man
4-stray cat blues
5-jig saw puzzle
6-parachute w.
7-prodigal song
8-No expectations
9-Dear d.
10-factory girl
11- salt of earth
child of the moom tinha que ter entrado em Their satanic no lugar da primeira faixa e 2000 light tinha que abrir o disco.
Olá João, quem sabe um dia sai uma reedição assim?
Tudo é possível.
Forte abraço