Eu sempre digo que não existe sacrifício em ver os Rolling Stones ao vivo. Primeiro, porque nada te obriga a ir. Se tu vais é porque queres ir. E depois porque são os Rolling Stones e assistir à maior banda do mundo é um prazer e não há como fazer relação com sacrifício. Mas claro que há shows mais e menos complicados. Nem sempre as condições são as ideais. E Southampton é daqueles lugares que você sabe que não pode ter grandes expectativas. Mesmo assim, fomos para a aventura de ver os Stones no St. Mary’s Stadium, em 29 de maio, na No Filter Tour 2018.
Nós começamos a programar a viagem meses antes. Os ingressos sequer estavam à venda e nós nem confirmação de cidades tínhamos. Mas se tinha uma noção muito próxima do que ocorreria e eu deixei a data de 29 de maio pronta, porque sabia que haveria show neste dia e que seria em Southampton ou em Birmingham (depois acabou sendo Coventry, que fica perto de Birmingham).
Quando decidi que viajaria com amigos argentinos e chilenos (Cesar Bersais, Alex Carrasco e Estela Quintana), as coisas ficaram mais fáceis porque se poderia dividir despesas. Então, toda a parte do tour histórica foi acrescentada. Mas eu não abria mão de Southampton, que seria meu 23º show dos Stones. O Cesar logo topou ir comigo e assim finalizamos a preparação da aventura.
Começa a trip
As passagens de trem na Inglaterra têm variações de preço muito grandes conforme o horário. Então, pegamos um trem que saía de Londres às 8h30min da manhã do dia 29. São menos de 2 horas de viagem e chegamos em Southampton por volta das 10h20min.
Chovia e nós não tínhamos hotel. Então, nos abrigamos num shopping que fica bem no centro da cidade, uma espécia de Rua da Praia (quem é de Porto Alegre vai entender). Mas pela pequena caminhada que demos pela cidade até chegarmos ao shopping, percebemos que o lugar não tinha muitos atrativos.
Bom, ficamos fazendo tempo no shopping. Ao menos estávamos abrigados da chuva, havia wi-fi e comida farta. A minha ideia inicial era não pedir os passes para o VIP Hispitality de antes do show, mas o clima estava tão ruim que achei melhor podermos ficar abrigados até a hora do concerto.
Então, mandei e-mail ao meu contato no escritório dos Stones, que em poucos minutos respondeu com o sinal positivo, bastaria pegarmos os passes na “Band Window” pelas 16h. Estava tudo certo.
O grande erro
Nós almoçamos e pelas 13h30 cometemos um grande erro. Decidimos ir para o estádio. Havia parado de chover.
O St. Mary´s Stadium não é localizado numa região turística ou preparada para receber público. Ao contrário de espaços como a O2 Arena e o London Stadium, em Londres, ou a U Arena, em Paris, que são imensos complexos de entretenimento, o estádio de Southampton é fica numa área industrial e portuária.
Você não sai de um metrô e entra numa bela avenida cheia de bares, restaurantes e pubs. O que você tem são caminhões transportante areia de um lado para o outro. Não há onde se abrigar. E é óbvio que caiu o maior temporal quando nós estávamos chegando. Estava frio e nós ficamos ensopados.
Filme de terror
Isso fez a aventura virar um filme de terror, porque eram 13h45 e o VIP Hospitality começava apenas às 18h. Não havia o que fazer. Tivemos de esperar.
Sofremos um pouco para achar a “Band Window”, mas por volta das 16h45min avistei um rosto conhecido dentro das bilheterias que estavam próximas. Pronto. Tudo resolvido.
Eu tremia de frio. Tudo que conseguia pensar era em entrar logo no VIP para poder me aquecer. Como sempre, tomamos uns drinks, comemos uns salgadinhos e docinhos, vimos as mesmas pessoas que costumam passar por lá, como Chuck Leavell, Bernard Fowler, etc. Me chamou atenção a presença da Joyce Smith, empresária dos Stones, que não costuma aparecer. O Marlon, filho do Keith, e alguns netos do guitarrista, também estavam lá. A belíssima e simpática Sally Wood deu voltinha pelo VIP, bem como o pianista Ben Waters. Nada muito fora da rotina.
O César pode realizar neste dia um dos grandes sonhos da vida dele, mas isso é uma história dele, que certamente ele vai contar quando achar adequado. Mas posso dizer que fiquei muito feliz por ele. O empenho dele foi recompensado.
Eu não vou falar do show, porque já postei sobre isso.
Estação fechada
Na volta encontramos casal de amigos argentinos, o Bombero Loco e sua esposa Belén Vale, que são duas grandes figuras. Como nosso trem partia apenas às 8h30 da manhã (pela mesma razão de preços relatada acima), nós descobrimos um pub que ficaria aberto até 3h da manhã.
Fomos os quatro até o pub, tomamos umas cervejas, mas ele era muito barulhento, mais parecido com danceteria. Embora fosse uma festa de pós-show dos Stones e tocassem várias canções da banda, não aguentamos a zona muito tempo e pelas 2h (ou antes) fomos para a estação de trem.
E eis a surpresa. Southampton é uma cidade pequena. E a estação de trem fecha. Mas fecha fechando mesmo. Não se pode entrar nela. É preciso ficar na rua. E chovia de novo. Era o quadro da dor.
Procurei no Google uma estação de “bus” e vi que havia um ônibus que saía às 3h30min para Londres. Conversei com taxistas e eles me apontaram que ela ficava a duas quadras acima. Lá nos fomos.
Chegando lá e… tudo fechado! Luzes apagadas, deserto completo. Mas vimos um ônibus chegar deixando passageiros. Ok, ela estava funcionando mesmo assim. Beleza. Mas como comprar passagens para Londres? Estava tudo fechado. Até que avistei uma máquina pouco adiante e pronto. Era possível comprar tickets na máquina e pagar com cartão. Estávamos salvos.
Foi apenas esperar mais 1 hora até o ônibus partir. Acabamos chegando em Londres antes do horário previsto e pude dormir um pouco antes de ir para o aeroporto e rumar de volta para o Brasil.
Lição da aventura. Não inventa, guri. Paga um pouco mais e não te complica.
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