No dia 25 de junho tive a oportunidade de assistir ao meu quarto show dos Rolling Stones em Londres e quinto na Inglaterra. Desta vez havia uma série de circunstâncias que aumentavam a carga emocional do concerto. Primeiro porque foi a primeira gig da banda na capital britânica sem Charlie Watts. Depois porque a Sixty Tour, como diz o nome, celebra os 60 anos de atividade dos guris. Obviamente o risco de ser a última digressão existe. Por fim, o show seria no histórico Hyde Park, o que para bons stoneanos dispensa explicações.

Como ja comentei inúmeras vezes, precisei de um tempo para assimilar a morte de Charlie e conseguir encarar os Rolling Stones sem ele. Mas o tempo é bom remédio e as feridas vão cicatrizando, embora a gente nunca esqueça as pessoas que amamos. O fato é que eu estava preparado para o bom Steve Jordan com as baquetas nas mãos.

Mick e Keith em ação. Foto: Hendrik Mulder

Fui ao concerto com os queridos amigos catalães Jordi e Conchi e com a não menos estimada, a gaúcha Carolina Jung. Chegamos ao Hyde Park por volta das 12h e não esperamos muito até os portões serem abertos. Estávamos numa área nobre, a Vip Diamond, que tinha uma estrutura muito boa de quiosques de alimentação, banheiros com ótima higiente e, especialmente, uma boa posição para vermos o show. Optamos por ficar colados à grade da passarela, ou palco “b”, se preferirem, onde estaríamos a poucos metros dos Stones quando eles passassem por ali.

Começa o show depois de 3 ou 4 bandas de abertura completamente dispensáveis. A imagem de Charlie aparece no telão e logo depois Keith tasca o riff de Street Fighting Man. E depois dela vem uma sequência de canções enlouquecedoras, que nenhuma outra banda conseguiria ter  já no começo da apresentação. Vieram 19th Nervous Breakdown, Tumbling Dice, Out Of Time, She’s A Rainbow (imensa surpresa), You Can’t Always Get What You Want, Ghost Town, Can’t You Hear Me Knocking (outra surpresa maior ainda) e por fim Honky Tonk Women.

Abraços e lágrimas

O gelado público britânico estava em êxtase. Keith e Mick trocaram abraço de felicidade pela excelente versão de Can´t You Hear. Eu e outras milhares de pessoas foram às lágrimas em Out Of Time (uma das minhas canções favoritas dos Stones, que nunca tinha sido tocada ao vivo até 01 de junho deste ano, em Madri).

Ronnie estava fogoso. Foto: Hendrik Mulder

Keith foi muito bem em Slipping Away e Connection e a apresentação ocorreu em alto nível. Gimme Shelter não entrou no biss desta vez, ficando como penúltima canção. Sympathy For The Devil é que fez as honras de encerrar a noite com Satisfaction. Terminado o show, 65 mil pessoas deixaram o Hyde Park felizes.

Mas e Steve Jordan? Claro que notei que não havia Charlie tocando aquela bateria. Mas havia tantas coisas positivas ocorrendo, que o tempo, apoiado pelo bom trabalho de Steve, não fizeram com que esquecesse Charlie, mas que pudesse aproveitar o show, como Charlie gostaria que fizéssemos.

Expectativa superada 26 vezes

Eu não sei sobre o futuro. Se voltarei a ver os Rolling Stones ao vivo novamente. Mas para um guri de Porto Alegre, no fim do mundo, que aos 20 anos achava impossível ver UM show dos Stones, até que superei as minhas mais otimistas expectativas.

Keith se divertiu muito. Foto: Hendrik Mulder

Foram 26 concertos dos Stones por 14 cidades, 8 países e 3 continentes, sem contar dois shows de Ronnie Wood em Londres e alguns rápidos encontros, mas nem por isso pouco memoráveis com Ronnie, Charlie e com todo o staff e familiares da banda, sem deixar de comentar as centenas de amizades com fãs de todo mundo originadas das tours com os Stones de 1995 até 2022.

Ninguém deve morrer sem ver os Stones ao vivo

Mas mesmo que você tenha assistido aos Stones apenas uma vez, fique contente. Você foi testemunha do maior fenômeno musical da história da humanidade. Você tem muito do que se orgulhar. Se você por acaso ainda não os viu, tomara que tenha essa sorte, porque ninguém deveria morrer sem ver os Rolling Stones ao vivo.

Vou postar aqui vídeos e que fiz da viagem por Londres e também vídeos do show filmados pelo bom amigo Matt Lee.