Rubén Giedrys 
e Rodrigo Echagüe 
Do Terra
O pulso se agita e, de repente, a ansiedade invade o corpo obrigando a apressar o passo, procurando alcançar “esse” lugar. Datford, ou mais precisamente a sua estação de trem, é o epicentro da busca. Ali, segundo conta a lenda, um reencontro casual entre um jovem Mick Jagger e outro ainda mais jovem Keith Richards, na plataforma número dois da estação, marcou o nascimento dos Rolling Stones, completam 50 anos do primeiro show na próxima quinta-feira. Com dezenas de instruções e dados na bagagem de mão, fornecidos por diferentes especialistas (leia-se fãs da banda), o Terra resolveu ir atrás da “pedra fundamental” da uma das bandas de rock que há tempos ganhou o status de lendária.
Uma prova, uma placa, um cartaz ou qualquer outro sinal eram o primeiro objetivo no roteiro da busca para constatar que foi ali onde Jagger e Richards, que se conheciam por ter cursado a escola primária em Wentworth, voltaram a se cruzar depois de vários anos.

No entanto, a busca pareceu inicialmente que não daria frutos. Nada nem ninguém parecia disposto a prestar testemunho em favor da história que conta que o vocalista carregava o disco Rockin’ at The Hop, de Chuck Berry, e The Best of Muddy Watters, o que chamou a atenção de Richardes. E que a caminho de Londres, já no trem, ambos deram os primeiros passos para que o guitarrista entrasse na Little Boy Blue and the Blue Boys (banda liderada por Jagger), que um ano depois iria se transformar em The Rolling Stones.

A pesquisa, então, ultrapassou as fronteiras da estação de Datford em direção à cidade.
Após uma longa jornada tentando buscar um ponto de assistência ao turista, um par de policiais deu uma dica inesperada, mas muito valiosa. “Vocês não estariam procurando The Mick Jagger Centre?” A dúvida inicial logo se tornou um “yes!” imediato, que se viu sucedido por uma indicação muito clara que levou nossa reportagem às portas do Datford Grammar School, nada menos do que o lugar onde Jagger estudou no segundo grau.
Como se estivesse programado, dezenas de crianças e jovens começaram a desfilar por um dos acessos do prédio, próximas à um cartaz gigante no qual se lia: “The Mick Jagger Centre”, em letras brancas e azuis celestes. Vencida a multidão, um funcionário forte apareceu e, depois de escutar a pertinente apresentação, entrou no edifício para logo sair acompanhado de Nicola, gerente da entidade. A aventura, então, tomou um rumo inesperado: a responsável por cuidar do lugar, que leva o nome do cantor dos Stones, decidiu abrir as portas para uma visita guiada por um lugar que não recebe turistas ou curiosos, somente estudantes de musica ou ao público que assiste aos shows que acontecem ali.
“Este centro abriu em 2000 e Mick colocou seu nome. A ideia deste lugar é promover novos talentos da música em geral”, detalhou Nicola, enquanto exibia fotos do vocalista da banda britânica que decoram a sala de entrada do lugar.

Entre as diferentes imagens, duas chamam a atenção. A primeira, onde se vê um Jagger irreconhecível posando com a equipe de críquete, a segunda, um retrato gigante do cantor feito pelos próprios alunos com fotos pequenas de seu rosto.

“Quando vem para cá, ele se conta sobre como era andar pelos corredores, as aulas, lembra de seus professores preferidos e daqueles que não gostava”, disse Nicola, que descreve o artista como “uma pessoa comum, como qualquer outra, simples, de fala pausada. Há pouco tempo me convidou para tomar chá e meus amigos não acreditaram. Mas, para mim, é uma pessoa absolutamente normal.” Com um valor de 15 a 17 libras (R$ 48 a R$ 54), a próxima sexta-feira será um dia especial para o centro, pois uma de suas salas abrigará o show de Chris Jagger’s Atcha!, a banda do irmão do cantor. “É um artista muito interessante. Sua música é realmente boa”, afirmou Nicola, que assegura que não seria estranho ver Mick entre os espectadores.
Depois de mencionar esta possibilidade, chega o final da excursão e, com isso, a pergunta obrigatória: “É verdade que Jagger e Richards se reencontraram na estação de trem de Datford depois de muitos anos e que ali fundaram os Stones?” Nicola pensa por alguns segundos, mas responde e acrescenta um novo fato à história: “Muitos contam isso, mas também se diz que esse encontro foi em um dos parques da cidade…”

A busca, então, termina. O retorno até Londres demora, à espera do trem em direção à estação de Cannon Street, o que garante tempo para que a imaginação corra solta e esboce um suposto encontro com Jagger assistindo ao show de seu irmão, podendo ali perguntar-lhe qual é a verdadeira história sobre o nascimento dos Stones ou, quem sabe, convidá-lo a tomar uma xícara de chá.