Por Pedro de Freitas Branco*
Fui “vítima” da célebre tempestade madrilena e
sobrevivi para contar. Foi na noite em que cumpri o sonho de ver os Rolling
Stones ao vivo. E o baptismo de fogo não podia ter sido mais transcendente. A
devastadora tempestade “tropical” caiu sobre as nossas cabeças, sobre o palco,
enquanto os Stones abriam com Under My
Thumb
.
Os shows de Madrid – duas datas, 7 e 9 de julho – foram
acontecimentos de grande repercussão em Portugal. Primeiro, ainda não seria nesta
ocasião que os Stones visitariam o país. Segundo, temia-se que a tour pudesse
ser a última da banda. Por isso, nem o preço exorbitante dos bilhetes – 2000
pesetas, cerca de mil e seiscentos escudos (oito euros) -, nem os mais de 500
quilómetros de distância, para quem saía de Lisboa, inibiram centenas de portugueses
de encarar a viagem até a capital espanhola.
Até onde a memória me deixa ir – tinha apenas 15
anos e a experiência foi de uma intensidade inaudita -, lembro-me do calor
asfixiante em plena atmosfera de Copa do Mundo de Futebol. Às nove horas da
manhã, os termômetros já assinalavam 50 graus! Nada que tivesse impedido a
banda de abertura, J.Geils Band, no auge do sucesso comercial com o álbum Freeze Frame, de nos arrebatar enquanto
o sol ainda se escondia.
A tormenta, inesperada e fulminante como Get Off Of My Cloud, teve o seu ápice no instante em que os Stones entraram em
cena. Chuva torrencial, ventania desenfreada, raios e trovões. Jagger de capa,
tentando proteger-se da intempérie, esforçando-se para não escorregar no palco
inclinado; Richards e Wood navegando por acordes incertos; sinfonia de feedbacks; dezenas de roadies em luta
contra um gigantesco cenário na iminência de ruir; balões coloridos por todo o
lado; multidão encharcada, feliz, indiferente à possibilidade de ser atingida
pelas estruturas do palco. Em suma: delírio total!
No entanto, por desígnio dos deuses do rock’n’roll, um verdadeiro golpe de
teatro sucedeu Under My Thumb. Logo
durante When The Whip Comes Down, a segunda canção no set, a
tempestade foi domada pela incomensurável força de las Piedras Rolantes. Daí em diante, um show musicalmente
memorável – som claro e pujante na frente, onde me encontrava -, cujo início
atribulado conferiu à banda uma atitude ainda mais enérgica, de combate.
Foi ali, no Vicente Caldéron, que escutei Angie pela primeira vez. Juro. Surpresa
e paixão imediata para quem ainda desconhecia alguma da discografia setentista
dos Stones. Angie, a monumental
versão de You Can’t Always Get What You
Want
, os raios e trovões, e a odisseia adolescente de viajar de Lisboa a
Madrid naquele tempo, abriram a porta para outra existência. Depois daquela
noite nada voltou a ser como antes.
* Pedro é português e mora no Rio de Janeiro há vários anos. Ele também é músico e entre outros projetos tem a Like a Rolling Stone, banda tributo aos Stones. O cara ainda é colecionador de LPs dos Stones, tendo uma das maiores coleções do País. Eu acho que já publicamos anteriormente outro texto do Pedro sobre o show de 7 de julho de 1982, mas de qualquer maneira, vale relembrar.



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