Por Rogerio Beylouni*

Era Novembro do ano passado quando as datas da No filter Tour foram anunciadas, o meu coração mais uma vez disparou. A partir de 1990, em Roma, eu consegui assistir a todas as grandes turnês que eles fizeram até A Bigger Bang. A minha vida era um “Like a Rolling Stone”.

Eu sempre conseguia dar um jeito de assistir aos velhos. Depois de 2007 tudo mudou. Os Stones ficaram um tempão parados e quando voltaram em 2012 eu já era um quarentão com família e responsabilidades. As tours seuintes eu assisti pelo YouTube ou DVDS oficiais até eles voltarem ao Brasil em 2016. Toda a loucura começou.

Por ter amigos na produção local da banda, tive a oportunidade de conhecer alguns bastidores e até o próprio Mick Jagger. Mesmo ardendo de febre fui a uma festa organizada para ele após o dilúvio no emocionante show em Porto Alegre.
Parecia que tinha cumprido a minha missão.

Rogério com André Ribeiro em Chicago

Alegria, a preocupação e êxtase

Em 2017 e 2018 eles tocaram na Europa e Reino Unido. Para mim era inviável viajar para lá,  mas quando no final daquele ano as datas da tour americana apareceram, eu tive a chance de segui-los de novo e a agarrei.

Chicago é o berço do blues elétrico e também a cidade onde vivem de dois grandes amigos. Era a minha oportunidade, até porque eram dois shows seguidos e no fim da turnê, quando eles geralmente estão voando baixo.

Com ingressos e passagens na mão, atravessei o verão na expectativa, até que em um sábado, no fim de março, veio a bomba. Mick Jagger teria operar o coração. A turnê foi adiada. A minha preocupação agora era com meu ídolo e não com os meus shows. Até por desleixo eu não tinha cancelado a minha passagem e quando o improvável anúncio aconteceu,  a tour agora começaria por Chicago, nas mesmas datas anteriores.

Na terra da Chess Records e do blues

A sorte estava do meu lado. Quando peguei o avião na véspera da No filter Tour, sabia que as emoções seriam fortes. A estreia eh sempre muito especial. A cidade estava totalmente no clima e eu no 81° andar da Trump Tower, no coração da cidade.

Rogério diante do Soldier Field

Em frente ao hotel dos Stones, encontrei o Andre Ribeiro e a Cristiane Pereira. Pegamos um táxi e paramos no Soldier Field. O estádio é lindo. Fica em uma área verde, cercado de parques e de uma esplêndida urbanização.

No lado de fora do estádio, o merchandising era ostensivo. Todo mundo acaba comprando alguma coisa. No lado de dentro a sorte continuava sorrindo para mim quando o Andre Ribeiro pegou um distintivo brilhante escrito VIP, tirou o adesivo e colocou no meu peito dizendo: “É teu e se mandou para a Filter Pit”.

O VIP Hospitality é cheio de fãs de todo mundo. Tinha bebida liberada e todo conforto. Na hora de ir para o meu lugar a seção 400, em virtude do adesivo do VIP acabei conseguindo uma melhor localização.

Em 10 minutos Keith rasgou os primeiros acordes de Street Fighting Man. A festa chegou ao auge. Mick agora era mortal e nem por isso não deixava de dançar, rebolar e cantar como um garoto sugado pela energia da plateia. As novidades começaram a aparecer. Sad Sad Sad foi a primeira. Depois eles atravessaram a passarela ao som de 2120 South Michigan Ave.

No palco B começaram um lindo set acústico com Angie e Dead Flowers. Estavam bem próximos de mim. A banda inteira estava muito concentrada, e o show foi perfeito com versões demolidoras dos clássicos como Midnight Rambler.  O público foi bem vibrante até o final.

A segunda noite de Stones em Chicago

A segunda noite não foi tão perfeita mas nem por isso foi pior. Eu estava de ressaca de uma noite de Blues no Buddy Guy’s Legends. Meu ingresso era na mesma fila E da estreia.

A abertura agora foi com Jumping Jack flash que é perfeita desde 1969. O setlist veio recheado de novidades. Monkey Man voltou a ser tocada. E isso foi muito massa.

O palco com cores fortes é basicamente um telão hi-tech, que mostra os ídolos do blues em Ride’On Down. You Can’t Always Get What You Want continua uma das minhas favoritas. Ela ficou muito bem antes do set acústico, que agora teve Play With Fire e Sweet Virginia, duas canções que eu nunca tinha assistido ao vivo nos 13 shows anteriores dos Stones que eu assisti.

O set do Keith estava melhor ainda com Slipping Away em uma versão muito emocionante. Before They Make Me Run foi tocada de forma magistral.

Em determinado momento do show, Keith  pegou uma Fender Telecaster e começou a tocar Midnight Rambler, mas era a guitarra para Paint it Black. A cena foi hilária. Mick e Keith abraçados e pedindo desculpas pelo vacilo. “Era apenas a segunda noite”.

A espontaneidade deles acabou incendiando mais o show, que terminou de forma eletrizante. Plateia e banda sabiam que aquele era um momento especial. Estavam em Chicago, a cidade que deu a eles uma identidade musical, que os transformou na maior banda de rock and roll do mundo.

*Rogério em 48 anos. É de Porto Alegre-RS e é um grande fã dos Rolling Stones, tendo assistido a 15 shows, de diferentes tours, até o momento.